01 agosto 2006

Isso e aquilo

Homens são dali, mulheres de acolá. Filhos são isso, pais são aquilo. As livrarias estão cheias de livros tentando nos convencer que a humanidade pode ser singelamente classificada em duas categorias opostas. Alguém certamente dá crédito a essas classificações, pois esses livros se produzem aos montes e não saem das listas dos mais vendidos.
Deve dar um certo conforto ao leitor descobrir que não é responsável direto por suas esquisitices, seu mau humor, sua intolerância. Melhor ainda é saber que não está só neste quadrado da tabela. Metade da humanidade está com ele. A outra metade está do outro lado, pronta para ser tratada como o inimigo da vez. Quem não for isso, forçosamente será aquilo.
Não consigo entender por que com tanto planeta rodando em torno do sol, escolheram somente júpiter e marte para simbolizar o homem e a mulher. Pelo menos o horóscopo é mais generoso, nos oferecendo doze alternativas de classificação.
Devo ter um parafuso a menos, pois não consigo me sentir confortável em nenhum desses lugares em que tentam me colocar. Do outro lado do balcão, na minha cadeira de psicanalista, a coisa fica muito mais complicada. Quando se vai formando uma idéia mais ou menos clara da nebulosa que me fala, aparece de repente um dado novo, uma palavra nova, um sonho novo que destrói o meu parco entendimento e me obriga a recomeçar quase do zero.
Não, minha gente. Eu não sou isso, nem vocês são aquilo. Na maioria das vezes nem sabemos bem o que somos. Tem dia em que acordamos de um jeito e vamos dormir de outro. Às vezes somos assim, outras vezes somos assados. E necessariamente experimentamos todas as gradações possíveis entre o cru e o cozido.

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