08 janeiro 2007

Com a corda no pescoço



Poucos dias depois da execução de Saddan Hussein, uma empresa americana de brinquedos, a Herobuilders, lançou um boneco do ex-ditador com uma corda no pescoço. O dono da empresa justificou a brincadeira com o argumento de que “Saddan foi a personalidade do ano”. Nada mais justo, portanto, que se ganhe algum dinheiro com isso.
Como é um brinquedo para crianças, é natural que o boneco traga na camisa uma frase engraçada, com uma rima fácil de decorar: Dope on a rope. O que deve ser traduzido como “Droga numa corda” quando o brinquedinho for lançado no mercado brasileiro. Não vai custar muito para assistirmos a cena divertida do júnior fazendo birra com a mãe na prateleira do supermer-cado: “só saio daqui com o meu Saddanzinho enforcado”.
Não estou sendo sarcástico. Mais cedo ou mais tarde isto vai acontecer. Todos sabemos que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. E nada melhor para os Estados Unidos agora do que a banalização do episódio do enforcamento do ex-ditador. Quanto mais imagens da execução forem divulgadas na internet, quanto mais piadas forem feitas na televisão, quanto mais se mostrar grupos alegres de exilados iraquianos festejando nas ruas americanas, mais o governo Bush se sentirá justificado em prosseguir com sua política de morte no Iraque.
O bonequinho com a corda no pescoço é o símbolo mais monstruoso da fome pantagruélica do lucro a qualquer custo. Nenhum valor ético é capaz de impedir a voracidade do capital em busca de novos segmentos de consumo. Mas se mudarmos um pouco de perspectiva, veremos que o novo brinquedo americano nos mostra que, em sua ausência absoluta de valores, é todo um segmento da civilização capitaneada pelos Estados Unidos que está com a corda no pescoço.

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