28 janeiro 2007

Umidade relativa



Saiu às pressas. Esqueceu de fechar a janela do quarto. Claro que choveu. Impossível não chover quando se esquece aberta a janela do quarto. Seu quarto era virado pra chuva. Quase não batia sol durante todo o dia. Mas a qualquer hora que chovesse, seguramente choveria em sua cama.
Passou o dia todo pensando na chateação de chegar em casa, tirar os lençóis, virar o colchão, forrar tudo de novo e deitar sabendo que mais dia menos dia o colchão não serviria mais pra nada. Um bom colchão custa os olhos da cara.
Entrou no apartamento e ficou enrolando pela sala, adiando a trabalheira que o esperava. Jantou, leu o jornal, viu televisão, folheou um livro, até que o sono o arrastou para o quarto.
Lá estava a cama do jeito que ele adivinhava. Úmida, mas não toda, desta vez. No lado mais próximo da janela, uma parte seca do lençol desenhava a silhueta de uma mulher. Ele olhou, tentou imaginar de quem seria aquele corpo que se deitou ali, de bruços, com uma perna estirada e outra encolhida, sugerindo um sono solto, relaxado.
Sentiu um calafrio. Era de medo. Fechou a porta do quarto, disparou pelo corredor, apanhou a chave do carro na mesinha da sala e desceu correndo as escadas. Quando o carro deixou a garagem do edifício, começou de novo a chover.

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