21 fevereiro 2008

Todas as cores


Na última vez que vi Balula, eu estava saindo da Funjope e ele ia chegando. Conversamos um pouco e, quando eu ia dando partida no carro, ele recomendou: bota o cinto.
Na penúltima vez que vi Balula, ele falou que era avó da minha neta, por conta de uma forte ligação afetiva com Ivan, marido da minha filha. Aí eu falei pra ele: cuidado que o lobo-mau pode comer você. Ele respondeu: Deus te ouça.
Balula era assim, cuidadoso e irreverente. Quando a gente se juntava para jogar conversa fora, a tema preferido era sobre os várias nomes que o preconceito dá aos os negros. O que a gente preferia era “cidadão de cor”.
Hoje, me dou conta que Balula é exatamente isto. Um cidadão de cor. De todas as cores. Como um arco-íris. Um pouco puxado para o lilás.
Balula foi-se embora no meio de um eclipse. A lua vestiu luto fechado pela sua morte. Mas o luto durou pouco, pois logo-logo a lua voltou com um brilho maior. Tinha recolhido um dos seus filhos mais reluzentes.
De hoje em diante, quando olharmos para a lua, vamos notar que em vez da palidez costumeira, ela mostra a cara pintada de todas as cores. As cores de Balula. Sempre um pouco puxado para o lilás.
Foto: Mano de Carvalho

Um comentário:

Anônimo disse...

Salve SÃO JOÃO DE BALUARTE!
Saudades de Balula no movimento FALA TORRE na década de 80...ele no estandarte e eu no zabumba (emprestado da Tribo Africanos da Torre), ele gritava FALA e eu completava: TORRE!
Assim ficará na minha memória um SANTO NEGRO que foi embalado pelo LUA.
Quando soube da enfermidade, escrevi uma carta física (adoro carta), mas ele não respostou...as letras de um ANJO NEGRO ficaram escritas nas estrelas da NAÇÃO TORRE.
Salve SÃO JOÃO DE BALUARTE.
LUIZ HENRIQUE PARAHYBA, em Goiânia-GO