07 julho 2008

Rosa

"Ladrão? se pega com tiro." - CDA




Ele era leiteiro. No tempo em que os leiteiros deixavam as garrafas de leite nas portas.
Ela era Rosa. No tempo em que as rosas casadas mal saíam às portas.
Ele amava as rosas. E colhia rosas nos jardins das casas em que deixava o leite para deixá-las nas casas de jardins sem rosas.
Ela amava as rosas. E gostava quando ele deixava uma rosa junto com o leite em sua porta.
Ele não sabia de Rosa. Rosa não sabia dele.
Mas o marido sabia que ela entrava feliz com o leite, sem mostrar-lhe a rosa.
Uma manhã, um tiro, um vidro estilhaçado.
Por debaixo da porta deslizava a cor trágica da aurora.

Clube do Conto, 05.07.2008
Ilustração obtida em: mapadonada.blogspot.com

3 comentários:

Juliêta Barbosa disse...

Lindo texto! Pétalas de rosas em sorrisos que se esvaem...

Sulla Mino disse...

Simplesmente adorei caro poeta!!!
Adorei fazer andança mais uma vez por aqui. este texto postarei no meu espaço literário, com todos direitos.

Bjks

Anônimo disse...

Olá,poeta! Belo mini-conto. Incisivo e fulgurante, como convém ao poético e ao trágico das paixões sem volta.Como convém as rosas. A recursividade narrativa, menos que retardar, precipita a bala. Deus-me-livre dos eventuais espinhos de tua fala!
Teu admirador,
j.a.assunção