20 novembro 2008

Luto e espera




Definitivamente, a vida não é para principiantes. A minha, pelo menos, não é. Não fez nem três dias que perdi um irmão e já me vem a notícia de que vou ganhar mais um neto (ou neta, ainda não dá pra saber). E eu, que mal me introduzia nas sombras do tempo do luto, sou convocado às pressas ao tempo da espera.

O trabalho do luto nos serve para limar as arestas contundentes do morto, esmaecer os tons rascantes de sua índole, até que fique na memória um quadro resumido de suas qualidades, com o qual conviveremos em paz pelo tempo que nos sobra. O luto é uma conta de diminuir.
A espera de um nascimento é, ao contrário, uma conta de somar. A notícia nos coloca frente a uma tela em branco que nos cabe aos poucos preencher com os traços do nosso desejo. O rosto deve ter o contorno suave da mãe, com certos traços mais fortes do pai. Claro que não deve faltar alguma coisa dos avós, detalhes que admiramos nos tios, um fio da beleza de algum parente distante. Daqui a um tempo, vamos saber se é menina ou menino, o que nos exige certas correções no projeto. E ao fim dos breves nove meses, temos que fazer os ajustes finais entre o sonho e a sua realização.

Estava eu, pois, em plena operação de diminuir, quando me atropela a exigência de uma conta de somar. E aqui estou, diminuindo com uma das mãos e somando com a outra. Como um pedreiro contratado para uma demolição e que, mal começa o trabalho, sabe que terá, ao mesmo tempo, de construir uma nova casa no mesmo terreno. Ainda bem que não sou principiante.

Imagem obtida em: www.mexicanbeautygiftshop.com

Um comentário:

Juliêta Barbosa disse...

Ronaldo,
As suas lágrimas adubaram o terreno fértil dos seus sonhos e a alegria voltou a brotar. Que este neto lhe traga sorrisos de espuma do mar... Grandes! Meu abraço.