02 novembro 2008

Tempo e palavra


Para Waldir Pedrosa Amorim
Sessenta vezes o poeta
deu voltas em torno do sol
em busca da luz
que lhe mostrasse a palavra perdida.
E a cada nova estação
a palavra faltava ao encontro marcado
com o poeta.

Fez também o poeta
vinte e um mil,
oitocentos
e quarenta e oito
voltas em torno de si mesmo.
E a cada metade de luz
em que a palavra ao longe acenava,
sucedia uma metade de sombra
em que ela novamente
se perdia.

Por mais tempo que viva,
restará ao poeta as palavras-migalha
jogadas pelo tempo
como esmola
no seu chapéu de pedinte,
que ele catará ao fim do dia,
ávido de re-encontrar o verbo
que nunca chegou a conhecer.

Ilustração obtida em: terrag2.pbwiki.com

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