21 janeiro 2010

Oposição






Um dia, minha filha mais nova chegou em casa muito irada. Sua chapa havia perdido a eleição para o Diretório Acadêmico. Além de irada, estava inconsolável. Mas os pais existem para consolar os filhos. Fui cumprir minha missão de pai. Disse então que fazer oposição é também uma forma de governar. É a vigilância da oposição que arrefece a voracidade dos governantes, exercendo uma crítica permanente aos atos de poder que possam prejudicar os membros da coletividade a que deve servir, seja ela um país, um estado, um município ou um diretório acadêmico.


Disse isto com a convicção de quem viveu o tempo da ditadura militar, em que os parlamentares do MDB, que mais tarde veio a ser o PMDB, faziam uma oposição ferrenha aos donos do poder, correndo o risco da cassação política, do exílio e até mesmo da morte. Os nomes de Ulisses Guimarães, Tancredo Neves e Mário Covas vieram corroborar meus argumentos. São exemplos históricos de como se pode exercer o poder a partir da oposição.


Difícil seria defender meu argumento com exemplos de hoje. Para onde me volte, só encontro uma oposição louca para deixar de ser oposição. Busca-se o poder a qualquer custo, não valendo mais nada as posições ideológicas ou programas partidários. Inimigos ferrenhos de ontem tornam-se repentinamente amigos de infância. Amigos de infância tornam-se inimigos execráveis. Acordos são rasgados, histórias esquecidas.


Ainda bem que não preciso mostrar isto a minha filha. Ela já pode ver com seus próprios olhos. Ela vê e mais uma vez fica irada. É uma pena que eu não possa mais cumprir o meu papel de pai.

Um comentário:

Juliêta Barbosa disse...

Ronaldo,

Estava com saudades dos seus textos. Aqui, eu aprendo sobre cidadania.