27 novembro 2010

Os ratos de Los Angeles



Um homem morava com sua filha em Los Angeles. Ele tinha problemas mentais, e sua filha, provavelmente, também, pois adotou uma ratazana grávida como bicho de estimação. Com o tempo, aconteceu o inevitável: os filhotes se reproduziram como ratos e praticamente consumiram a casa do homem e da menina.
Neste ponto, entra na história a North Star Rescue, uma ONG dedicada à proteção dos animais. Pois é. A entidade fez isto mesmo que você está pensando. Recolheram os pobres animais sem teto em um enorme galpão e foram procurar lares adotivos para cerca de mil roedores. Se você não tiver um lugar confortável para instalar um casal destes amáveis bichinhos, pode mandar doações de alimentos. A ONG sugere que você envie cereais saudáveis que serão misturados com comidas para rato, macarrão, frutas secas e soja.
Não consigo distinguir a ironia embutida na notícia. Por um lado, a ONG pode estar querendo por a nu a nossa hipocrisia patente na predileção afetiva a certos animais (gatos, cachorros e mesmo os hamsters, primos sofisticados dos gabirus) enquanto outras espécies, como ratos, sapos, cobras e morcegos, são reservados ao nojo e à violência dos humanos.
Por outro lado, todo o episódio talvez venha revelar a falta de interesse que a mídia e a piedade humana dispensam a certas situações de desamparo. A notícia, publicada pela BBC, não traz nenhuma referência à intervenção de qualquer entidade, governamental ou não- governamental, em favor do pai e da filha que perderam a casa. Se não fosse a insólita intervenção da ONG, continuariam lá, no esquecimento reservado aos loucos, aos pobres, aos desabrigados.

3 comentários:

Angela disse...

Quando se está muito perto de alguma coisa, fica difícil vê-la com precisão. Talvez a loucura do mundo não consiga ver bem o pai e a filha.

Pedro Du Bois disse...

Caro Ronaldo, agradeço sobremaneira pelos livros recebidos. Já tinha um exemplar do Memória de Fogo (que encaminharei para a biblioteca pública local, ficando com o agora recebido), do qual gosto muito. Seus relatos são apropriados e pertinentes em relação à nossa pobreza dita humana (ou humanizada). Outro assunto, numa das tantas "pifadas" do meu computador, perdi o seu e-mail, seria possível encaminhar um e-mail para pedro_dubois@terra.com.br?
Abraços, Pedro.

ps: qualquer dia, com certeza, retornarei à JPessoa, para poder reunir os amigos de sempre.

Rosa Varjão disse...

Caro Ronaldo, primeiro, estamos exibindo sua dica cultural na TV Cidade João Pessoa. Segundo, sobre os ratos de Los Angeles,quem costuma escolher causas que não enriquece financeiramente alguém, sofre todos os tipos de preconceito, restrições e abandono. Aprendemos a supervalorizar proteger o ser humano, mesmo que este seja monstro. Os animais, estão em segundo planos. Milhares deles são abandonados, queimados, deixados no Centro de Zoonozes - sãos, doentes, velhos! Esta semana, estava indo para o trabalho, e vi, na BR, um cão morto pela violência do trânsito. Certamente era de rua, mas talvez se tivesse dono, por algumas horas, sentiram a sua falta. o Certo é que até hoje, o corpo do animal está na Br. A violência não incomoda mais - ela é rotineira. E, rotineira, não assusta, a não ser que venha acompanhada do inusitado.

Rosa Duarte VARJÃO - JORNALISTA