16 janeiro 2011

Estação da morte



É verão de novo. E por mais que poetas, cronistas e publicitários queiram nos mostrar as delícias do sol nas praias, lá vem a enxurrada de notícias estragando nossas férias. Rios que transbordam, encostas que deslizam, casebres que desabam. E mortes. Muitas mortes.
É verão de novo. E cá estamos nós, tentando salvar a nossa paz em meio ao horror dos desabrigados, ao desespero dos enlutados. Pobres, todos eles. Quando não perdem a vida, perdem tudo que a vida permitiu guardar.
É raro, muito raro, ver uma vítima desses desastres que não seja extremamente pobre. Pois só os pobres se sujeitam a morar nestes fins de mundo para onde são enxotados pela exploração imobiliária e pelo descaso das políticas públicas.
No ano passado, morreram uns poucos ricos em Angra dos Reis. Este ano, algumas mansões das serras do Rio foram ao chão pela força das águas. Mas se compararmos o número de mortos por classes sociais, veremos que os pobres ganham fácil este ranking de morbidez.
Pode parecer sarcástico, mas devemos esperar que aumente o número de vítimas nas classes média e rica para que alguma medida preventiva venha a ser tomada para controlar os efeitos desta calamidade sazonal.
É verão de novo. E mais uma vez temos que conviver com esta ambigüidade de sentimentos. Esperamos com ansiedade a estação que nos trará o sol, o mar e o tempo livre para o convívio amigável. Mas lá no fundo, tememos pela chagada deste mesmo tempo, pois sabemos que, para muitos, será novamente uma estação de sofrimento e morte.

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