22 março 2011

Teatros


Não podia ser em lugar melhor. Foi o Teatro Municipal do Rio de Janeiro que Barack Obama escolheu para falar ao povo brasileiro. O espetáculo foi perfeito. O cenário, deslumbrante, com várias bandeiras brasileiras e americanas intercaladas, como coristas servindo de fundo ao artista principal. E ele estava num dos seus melhores dias. Saudou o público em português, sem esquecer de particularizar os nacidos em alguns estados que julgou importantes, tais como os mineiros e as « baianas ». Foi comovente e surtiu o efeito esperado em boa parte da população, muito bem documentado pela televisão.

Um dia antes, porém, o chefe da nação amiga já deixava claro as suas verdadeiras intenções: vender, vender mais, vender muito, vender tudo o que os EUA têm para vender. Mal disfarçando sob o manto da presidência o seu verdadeiro papel de camelô da indústria bélica americana, Obama cochichou no ouvido de Dilma Roussef as maravilhas dos seus aviões de caça FA-18.

O Brasil está interessado em comprar 36 aviões, numa trasação avaliada em cerca de seis bilhões de dólares. O negócio é tão bom, que, antes da visita de Obama ao Brasil, outro camelô internacional, Nicolas Sarkozy, barganhou o apoio da França à candidatura do Brasil a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU em troca da compra dos caças Rafale, de fabricação francesa.

Enquanto os videotas brasileiros se embasbacavam com as maravilhas de segurança e conforto dos automóveis e aviões da presidencia americana, os sessenta empresários da comitiva ofereciam seus préstimos na construção da infraestrutura para a Copa e os Jogos Olímpicos da terrinha.

E para mostrar que não estava para brincadeira, Obama fez uma demonstração prática da utilidade do seu produto. Mandou bombardear as posições estratégicas das forças leais a Kaddafi. O recado estava dado. Se o espetáculo do Teatro Municipal não foi suficientemente sedutor, ali estava um argumento mais convicente: a eficácia dos seus mimos no teatro de operações. Deve ter sido mais ou menos isto que Obama cochichou no ouvido da Dilma.

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