13 setembro 2011

Limites




Quero pedir desculpas aos leitores pelo assunto que vou tratar nesta crônica. Nunca fiz isto, mas desta vez acho necessário, pois eu, que me considero calejado na escuta das misérias humanas, me senti atingido quando li a notícia no jornal. Fico imaginando, portanto, o quanto o fato deve ferir a sensibilidade dos menos traquejados com as manifestações quotidianas do mal.

Quatro pedras de crack. Quatro míseras pedras de crack foi o que um pai, no interior da Paraíba, recebeu de um traficante em troca de sua filha de quatro anos. Uma pedra para cada ano de vida. Recebido o pagamento, o homem enrolou a filha num lençol, vestida apenas com um short, e a levou para um matagal onde o estuprador esperava.

No domingo passado, comemoramos o aniversário de quatro anos da minha primeira neta. E é no seu corpo frágil e na sua alma esperta que eu penso agora ao tentar compreender essas duas infâmias: o que pode levar um pai a entregar sua filha a um estuprador em troca de qualquer bem, por mais valioso que seja. O que pode fazer uma criatura sentir um impulso sexual por um corpo imaturo e indefeso de uma criança.

Não vamos, em nenhum instante, chamar os criminosos de animais, pois os animais são incapazes de praticar qualquer ato perverso contra os de suas espécies. No terreno do mal, não é a animalidade que deve ser contraposta à humanidade. O contrário do humano é o desumano. Este duplo crime nos coloca nos limites da nossa humanidade. Aponta para o terreno obscuro da desumanidade, para onde qualquer um de nós pode ser remetido, dependendo de nossas circunstâncias.

Foi por isso que comecei esta Crônica com um pedido de desculpas. Peço perdão por ter de lembrar que todos nós corremos o risco de tornarmo-nos desumanos. E que a nossa frágil humanidade dever ser construída a cada instante, principalmente quando somos tomados por sentimentos de ódio e desejos de vingança frente às manifestações quotidianas do mal.

Um comentário:

Angela disse...

a criança e o jovem são bastante atraentes porque belos, frescos e cheios de vida. Quando a atração é deste tipo, podemos pensar em impulso destrutivo, algo que parece querer macular esta beleza.
Não sei se estes seres estão plenos do mal, mas desconhecem o amor e a preservação do que é vivo e belo. Daí podemos supor a ausência do bem.
Uma simples forma de pensar para reduzir o impacto que acontece na alma e que nos faz usar o escudo da razão, para suportar a tristeza.