25 janeiro 2012

Números e nomes



“Só tenho um número, só sou um número”. Foi o que Eliane disse à imprensa, mostrando um papel com a senha que recebeu depois que foi expulsa de sua casa na comunidade de Pinheirinho, na cidade paulista de São José dos Campos. Ela estava há quatro horas numa fila sem conseguir ser atendida. Tudo que queria era recuperar seus pertences deixados no barraco em que vivia com mais seis pessoas.  
Eliane é só um número dentre muitos que marcam esta operação de guerra em que se transformou a desocupação de Pinheirinho. Numa área de mais de um milhão de metros quadrados vivia uma população estimada entre seis a nove mil pessoas. Três vezes maior que o Estado do Vaticano, a área estava avaliada em 180 milhões de reais.  
Se quisermos mais números, saberemos que dois mil policiais militares com o auxílio da guarda municipal foram usados para desalojar os moradores. O reforço veio com mais de 220 viaturas, dois helicópteros além de carros blindados. Além disso, 40 cães e 100 cavalos também foram usados para intimidar e agredir os moradores.  
Podemos pensar que não há nada que justifique tamanho aparato e os atos de violência indiscriminada que o Estado usou contra pessoas pobres, abandonadas à própria sorte pelo poder público.   A não ser que suspeitemos de uma ação integrada entre o poder executivo de São Paulo e alguns membros do judiciário em benefício de algum poderoso muito bem articulado nos meios políticos estadual de federal. 
Quando sabemos que a área de Pinheirinhos pertencia à massa falida de uma empresa de propriedade de Naji Nahas, um bandido que já foi preso por evasão de divisas e lavagem de dinheiro, aí as coisas se esclarecem. Aí fica difícil manter a esperança de que Eliane deixe de ser apenas um número e que um dia venha a ser tratada como a Cidadã Eliane Borges Figueira.       

Um comentário:

Angela disse...

dá vontade de pular da janela deste mundo... se é que há janela.
Quando nosso povo vai parar de ser tão dócil?