18 janeiro 2012

Tragédia grega


Uma mãe abandona um filho na porta de uma igreja porque já não tem como alimentar nem a si nem à criança. A cena se multiplica em frente às ONGs e aos órgãos governamentais. Não estou falando de nenhum país subdesenvolvido nem atingido por qualquer desastre natural. É na Grécia, país membro da comunidade européia, onde nasceu a civilização ocidental, que as mães estão tomando esta decisão extrema em favor da sobrevivência de seus filhos.          
De todas as misérias que a crise européia vem causando, nada se compara a esta tragédia que se abate como uma epidemia sobre as famílias gregas. Uma sucessão de governos perdulários torrou o dinheiro vindo da comunidade européia para ser aplicado em infra-estrutura e melhoria de serviços. Veio a crise financeira e o desequilíbrio das contas levou o país à bancarrota. Daí em diante, todo o dinheiro que entrou foi para livrar o prejuízo dos bancos. O governo que se virasse para cumprir as exigências dos financiadores. Era preciso cortar fundo na própria carne, diziam. Mas o que sangrou, como sempre, foi a carne do povo.
Uma das saídas apontadas para minorar o efeito da crise grega seria o país vender uma parte de suas ilhas, aquelas pérolas povoadas pelos mitos fundadores da cultura ocidental. Podemos supor que isto seria a vergonha suprema para o povo grego. Mas uma vergonha maior está sendo imposta pelos senhores do dinheiro aos indivíduos que vagam pelas ruas destituídos dos seus bens, dos seus empregos. E desta população humilhada, destaca-se o drama dessas mulheres levadas ao sacrifício extremo de abandonar seus filhos para livrá-los da morte pela fome.
Nenhum deus pode ser apontado como autor desta tragédia. Ela é fruto da maldade dos homens. Dos poderosos de sempre, alheios ao sofrimento que causam a seus semelhantes em qualquer lugar do mundo.

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