02 dezembro 2015

Ora, direis...



Olhar estrelas. O que pode haver de novidade em um hábito tão antigo quanto a existência da espécie humana sobre a terra? Eu vos direi, no entanto, que esta noite eu vi as estrelas de um modo tão novo, que nem me lembro quando as vi assim pela última vez.
Deixem-me explicar. Desde os onze anos carregava comigo uma miopia que incorporou os óculos de forma irrevogável ao meu rosto. Com o passar do tempo, a esta miopia veio se incorporar um processo de formação de catarata que aos poucos foi me esmaecendo a visão. Acontece que decidi operar as tais cataratas, e, junto com elas, corrigir a minha boa e velha miopia.
Só quem passou por um processo semelhante sabe o espanto que causa a recuperação da visão nítida das coisas. Passei a ver o mundo em HD. Mas o que mais me impressionou foi notar que as coisas ganharam um brilho diferente. A luz do sol ficou mais clara e reluzente. Até as lâmpadas perderam o tom amofinado e se tornaram brancas as que eram brancas e amarelo brilhante as que eram apenas amarelas.
Mass o melhor de tudo aconteceu agora de noite. Apaguei todas as luzes do terraço e do jardim e olhei para o céu. Lá estavam elas, as estrelas, nítidas, claras, com o brilho azulado que há muito eu não via. Lá estavam as Três Marias, mais para o lado o Cruzeiro do Sul, mais a baixo o avermelhado Marte...

Ora, direis, que besteira, olhar estrelas. Bilac ao menos as ouvia. Mas o jovem Olavo era vesgo. Talvez a sua vaidade não permitisse que olhasse o céu, para não expor sua assimetria às donzelas na calçada da Colombo. Hoje eu vi as estrelas e elas piscaram para mim. E só não foram além desse gesto cúmplice para que vocês não pensem que eu perdi o senso.     

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