09 julho 2018

Manual Prático de desaparecimento







Como você deve saber, o meu "Manual prático de desaparecimento & outros poemas" foi lançado no dia 18 de junho com uma característica mito especial: o livro não compareceu. 
Por mais que eu o adulasse, ele se recusou a deixar o depósito de cargas da Gol, talvez por acanhamento, talvez por cansaço pela longa viagem de São Paulo até João Pessoa.

Agora, devidamente adaptado às prateleiras do meu escritório, o "Manual" relutou em comparecer ao seu segundo lançamento,nesta terça-feira, 10 de julho, às 19h30, na Budega Arte Café (R. Arthur Américo Cantalice, n.197, Bancários). Depois de muita adulação, resolveu, por fim dar as caras (ou as capas).

Não se assuste com o título do livro. Ele reúne poemas cuja temática principal é a morte, mas não a vida após a morte ou simplesmente o medo dela, mas as experiências afetivas que a morte evoca em nós. E para aliviar o peso do tema. temos os "outros poemas" que pretendem acalmar os nervos dos mais  melindrosos. 

Aguardo você com carinho e uma conta enorme a pagar para a Editora Patuá.

Ronaldo Monte
                               

01 janeiro 2018

Frações da eternidade



Na véspera do ano novo, decidimos antecipar a virada para as nove da noite, aqui em casa. Para justificar o sono coletivo, cada um deu sua opinião quanto à convenção de se comemorar a passagem do ano à meia-noite do dia 31. Feito isto, passamos dos aperitivos para o filé ao molho madeira regado a um bom vinho uruguaio. Depois veio um espumante nacional honesto para um brinde sem as promessas ridículas que não resistem às primeiras horas do ano novo.

Como o assunto da convenção do calendário ainda insistisse na mesa, me ocorreu uma frase de efeito que me pareceu pomposa para a ocasião, mas decidi pronunciá-la assim mesmo: “o ser humano ainda não está preparado para a eternidade”.

Um dia depois, a frase ainda me ocupava a cabeça. E com ela vieram as ideias correntes sobre a necessidade que o homem sente de fracionar o tempo. É isto: precisamos de separar o tempo em fatias para poder suportar a sua passagem. Meu filho tem um amigo que fica agoniado vendo um relógio de parede em que o ponteiro dos segundos desliza direto, sem se deter em cada traço do mostrador. A grande maioria de nós, mesmo sem a mínima noção do que se trata, acredita piamente no uso do carbono para determinar a idade dos fósseis pré-históricos. Como se sabe, a famosa Lucy nasceu a exatos três milhões e duzentos anos.

Pois é. Não nos contentamos apenas com a contagem miúda dos nossos anos vividos por aqui. É preciso recuar o mais que possível, é preciso avançar até os limites da ficção para garantirmos que os anos se seguirão uns aos outros, com suas estações sucedendo-se rigorosamente.   

Só Drummond cansou de ser moderno, querendo então ser eterno. Nós, o resto dos mortais, não suportamos a eternidade. Mesquinhamente, medimos o tempo baseados no percurso individual desde o nascimento até uma morte longínqua e hipotética. Esquecemos que cada dia, cada mês, cada ano, é apenas uma fração da eternidade a que estamos condenados como espécie, como matéria, como poeira cósmica. Queiramos ou não, estamos condenados à eternidade.


Foto recolhida em 

https://herancajudaica.wordpress.com/2015/09/23/tempo-e-eternidade/